sexta-feira, 14 de outubro de 2011

coração de papel.



f: dói-me a cabeça e tenho muito sono. Vou dormir. Quero-me apagar deste mundo tão escasso onde só a crueldade existe, quero entrar no mundo perfeito, nem que seja por breves horas. (...)
r: vai, descansa que bem precisas. Vê lá se apagas esses teus sonhos.
f: apagar? tás tola! são a melhor coisa que ainda me resta, neste momento.
r: só te fazem mal. estás a criar ilusões dentro de ti mesma !
f: de ilusões estou eu cheia. ao menos estas dão-me umas horas de felicidade e pura inocência. 
r: sabes bem que não devia ser assim. estás-te a alimentar de coisas que não te alimentam. só te estás a matar por dentro e não mereces. não faz sentido.
f: muita coisa não faz sentido, essa é somente mais uma. é o meu único refugiu (...)

Eu sei o quanto custa, aliás, estar desse lado é das piores coisas que nos pode acontecer. Nós que tanto lutámos e vencemos obstáculos para poder ver aquele sorriso dele que para nós tanto fazia sentido. O tempo parece que pára e o relógio não avança. Passamos o dia a olhar para ele, a querer fazer com que a hora de voltar a adormecer e viver a inocência volte, bem depressa. Essa inocência que nos alegra, que nos põe o sorriso na cara e que nos reconstrói, nem que seja por breves horas, aquilo que alguém destrói diariamente. Mas, durante o dia o tempo congela e as emoções e a esperança permanecem em vez de congelarem em conjunto. Enquanto que à noite, as horas passam como a rapidez do soprar do vento. E isso revolta-nos. Porque quando estamos bem e felizes, algo aparece para destruir esses momentos, algo estraga o que  foi construído com o mais pequeno pormenor de carinho, com a maior das perfeições e acaba por conquistar aquilo ao qual demos corpo e alma para ter. Sabes, o nosso mal é termos este coração de papel, tão mole que se deixa levar tão facilmente. Prefere esconder-se enquanto devia mostrar-se forte, mas esconde-se, feito estúpido. Reage como uma criança que vive no mundo da inocência, quando sabe perfeitamente do que se trata, e depois chora sem controlo. Deixa qualquer pessoa entrar e permite com que se refugiem lá dentro e permaneçam lá, só enquanto lhes apetece. E por mais que o fechemos a sete chaves, ele rasga, permitindo que essa pessoa que tanto amamos, fuja. Mas ele é assim, tão amargo e fraco, tão frágil e sensível. Não é nenhuma doença, nem é nenhum defeito. Não tem cura e não vai deixar de ser como é, esse é talvez um problema. Mas é como tudo, temos de saber lidar com os problemas que nos rodeia e angariar forças para não nos deixarmos cair, mais uma vez. Aprender a aproveitar tudo ao máximo e dar valor às coisas enquanto nossas. Se elas se vão, é porque estava na sua hora de partir. Poderão voltar ou não, mas até lá, viver cada segundo como se fosse o último e não nos prendermos ao passado. E princesa, lembra-te, és grande e muito forte, tira aproveito disso. Sempre aqui, para tudo, sabes bem.